O TEMA CENTRAL DO EVENTO E SUA RELEVÂNCIA
A saúde digital é entendida como o campo do conhecimento e da prática associado ao desenvolvimento e uso de tecnologias digitais para melhorar a saúde. Essas tecnologias, além de proporcionarem o atendimento virtual e o monitoramento remoto, permitem a captura de dados, o armazenamento e o compartilhamento de informações relevantes em todo o ecossistema da saúde, o que contribui para garantir a continuidade de cuidados(1).
A relevância e atualidade desse tema podem ser verificadas na estratégia global organizada pela Organização Mundial da Saúde, intitulada: “Global strategy on digital health 2020-2025”, que visa criar um entendimento partilhado entre todos os Estados-Membros sobre a importância das soluções digitais, fortalecendo a sua aplicação nos sistemas de saúde(2).
No Brasil, o tema faz parte da Política Nacional de Informação e Informática em Saúde, publicada em 2015 pelo Ministério da Saúde. Essa política definiu os princípios e as diretrizes a serem observados pelas entidades públicas e privadas de saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) para a melhoria da governança no uso da informação e dos recursos de informática, visando à promoção do uso inovador, criativo e transformador da tecnologia da informação nos processos de trabalho em saúde.
Dentre os princípios da Política Nacional de Informação e Informática em Saúde, estão: o uso da informação em saúde nas ações de atenção à saúde de cada indivíduo e da coletividade; a gestão da informação em saúde integrada e capaz de gerar conhecimento; a produção da informação em saúde abarcando a totalidade das ações de controle e participação social, das ações da atenção à saúde e das ações de gestão; a informação em saúde como elemento estruturante para a universalidade, a integralidade e a equidade social na atenção à saúde; o acesso gratuito à informação em saúde como direito de todo indivíduo(3).
Uma das diretrizes dessa política envolve a formação permanente de pessoal para o Sistema Único de Saúde na área de informação e informática em saúde. Tal diretriz, inclui: a promoção da formação, da qualificação e da educação permanente dos trabalhadores e dos gestores de saúde para uso da informação e informática em saúde; a promoção da articulação entre os Ministérios da Saúde, da Ciência e Tecnologia e da Educação com vistas a inclusão de conteúdos relacionados à área de informação e informática em saúde nos cursos de graduação e pós-graduação; e o incentivo ao desenvolvimento de programas específicos para a formação em educação permanente na área de saúde, a fim de ampliar e qualificar a produção e utilização da informação e informática em saúde(3).
Em 2020, foi lançado o documento “Estratégia Saúde Digital Brasil 2020-2028”, que expandiu e atualizou as iniciativas anteriores para a promoção da saúde digital e estabeleceu o plano de ação para consolidar os seus princípios e diretrizes no Brasil. Nesse documento, a visão estratégica atualizada da saúde digital para o horizonte de oito anos é a de que a Rede Nacional de Dados em Saúde, que tem como objetivo principal promover a troca de informações entre os pontos da Rede de Atenção à Saúde, permitindo a transição e continuidade do cuidado nos setores público e privado, esteja estabelecida e reconhecida como a plataforma digital de inovação, informação e serviços de saúde para todo o Brasil, em benefício de usuários, cidadãos, pacientes, comunidades, gestores, profissionais e organizações de saúde(1).
Para a implementação dessa visão estratégica, o Plano de Ação da Saúde Digital no Brasil está organizado em sete prioridades: 1-Governança e Liderança da Estratégia Saúde Digital pelo Ministério da Saúde, com incorporação da contribuição ativa dos atores externos; 2-Informatização dos três níveis de atenção, com indução da implementação de políticas de informatização dos sistemas de saúde; 3-Suporte à melhoria da atenção à saúde, de modo que os dados em saúde forneçam suporte às melhores práticas por meio da telessaúde ou de aplicativos desenvolvidos; 4-O usuário como protagonista, ou seja, a promoção do engajamento dos cidadãos e pacientes na adoção de hábitos saudáveis e gerenciamento da sua saúde; 5-Formação e capacitação dos recursos humanos em saúde em informática em saúde; 6-Ambiente de interconectividade que permita que a Rede Nacional de Dados em Saúde potencialize o trabalho colaborativo em todos os setores da saúde; e 7-Ecossistema de inovação, aproveitando o ambiente de interconectividade como um laboratório de inovação(1).
Esse conjunto de atividades prioritárias que necessita ser executado revela que a saúde digital é uma área, de conhecimento e de prática, extremamente complexa, devido à diversidade de atores e de interesses, à falta de maturidade das organizações de saúde, à escassez de recursos humanos e de lideranças capacitadas e, sobretudo, à complexidade inerente aos processos de saúde(1).
Dentre os atores relevantes para que a estratégia se desenvolva, destaca-se nesta proposta de fomento a enfermagem, enquanto força de trabalho do Sistema Único de Saúde que é essencial no desenvolvimento, implementação e avaliação de intervenções digitais de saúde(1). Porém, os enfermeiros precisam adquirir o conhecimento, as competências profissionais e a experiência necessárias para desenvolver e empregar métodos digitais de saúde.
Nessa direção, as universidades enquanto centros de formação e investigação podem contribuir com o desenvolvimento de algumas atividades prioritárias do Plano de Ação Saúde Digital 2020-2028, em particular o eixo de ação prioritária cinco – Formação e Capacitação de Recursos Humanos para a Saúde Digital, no intento de alcançar o número de profissionais com o perfil adequado para executar as ações relacionadas à saúde digital(1).
Dessa feita, a proposta do evento em tela é um dos investimentos do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Enfermagem da Universidade Federal do Rio de Janeiro na geração de conhecimento e formação qualificada de recursos humanos para o atendimento dessa demanda expressa nas políticas de saúde, o que justifica a sua realização.
Parte-se do entendimento de que a utilização de serviços e aplicativos de saúde digital, bem como de dispositivos e instrumentos de apoio à prática e gestão clínica depende de profissionais de saúde com competências, conhecimentos, experiências, atitudes e cultura alinhados ao escopo da saúde digital. Essa capacitação deve abarcar temas como a trajetória da saúde digital no Brasil; Segurança e Ética no compartilhamento de dados; Dados, informação e conhecimento; Sistemas de informação em saúde, dentre outros.
Destaca-se ainda que a produção científica em qualidade e quantidade no campo da Saúde Digital, assim como a consolidação do conhecimento e a disseminação de casos de sucesso são fundamentos essenciais para que se a visão de Saúde Digital se estabeleça e se mantenha. Logo, reconhece-se a lacuna de conhecimentos desse tema da informática em Saúde também como área de pesquisa.
Conclui-se, que o alcance do objetivo de capacitação dos recursos humanos em saúde deve incluir os profissionais e gestores em saúde, mas também incluir esforços no âmbito da graduação, especialização, mestrado e doutorado. O Ministério da Saúde considera que as universidades e centros de formação devem liderar a realização dessa ação prioritária. Então, este evento científico proposto é uma contribuição às políticas públicas destacadas, na medida em que ao abordar as experiências, os desafios, os aspectos conceituais, as estratégias, as dimensões éticas, a produção científica, os aspectos das formação sobre a saúde digital no diálogo com a disciplina enfermagem, instrumentalizará os profissionais participantes para o emprego das ferramentas da saúde digital nos diversos campos de atuação, bem como fomentará a produção de conhecimento sobre esse tema.